APAGÃO DA MÍDIA.


Esperei alguns dias para comentar sobre a crise aérea (ou “apagão aéreo, como preferem alguns). Mais de 40 dias se passaram do trágico acidente que ceifou cerca de 200 vidas. O comentário naqueles dias poderia estar contaminado pela indignação e sofrimento que o fato causou em todos nós.
Mas uma pergunta não quer calar: o chamado “caos aéreo” merece todo o espaço que conseguiu na mídia?
Não teríamos outros “apagões” piores?
Porque pessoas esperando nos refrigerados salões dos aeroportos chocam mais a mídia conservadora do que pessoas morrendo nas filas dos hospitais e postos de saúde.
Milhões de trabalhadores sofrem horas em ponto de ônibus, debaixo de sol e de chuva. Enfrentam ônibus lotados, viajam em pé, amassados, durante horas todos os dias (cadê C.P.I.?).
Porque quando um caminhão repleto de trabalhadores (“bóias-frias”) despenca num barranco matando dezenas, não temos uma comoção nacional? Porque o Willian Bonner não transmite o Jornal Nacional da área do acidente?
Doeu ver o uso do trágico acidente de julho para fins políticos, a pressa em culpar o governo e o “apagão aéreo” superou a barreira do ridículo. Quando as chamas ainda ardiam, já se apresentava as causas: falta de “grooving”, a pista não estava ainda pronta para uso,
Eu posso somente especular, mas acho que é porque quem sofre com a crise aérea são as pessoas de maior poder aquisitivo, pessoas pertencentes a mesma classe social dos dirigentes dos meios de comunicação de massa.
Gostaria de transcrever umas palavras da socióloga Marilena Chauí ao blog Conversa Afiada de Carlos Henrique Amorim: “a mídia não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não e? Já a classe média e a elite... bem, é diferente não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega aser comovente”.
Existe um caos aéreo? Caro que sim!
Culpa de governos (anteriores e atual) que só pensou em diminuir a maquina pública, não tendo nenhum preocupação com infra-estrutura do país.
Culpa de companhias aéreas que vendem mais passagens do que podem oferecer, submetem seus trabalhadores a jornadas extenuantes de trabalho, exigem das aeronaves um uso intenso, ou seja, operam no extremo.
Esquecendo todo o passado, a grande mídia informa que a crise aérea começou com o acidente da gol ano passado. Como se nos anos anteriores tudo fosse uma maravilha.
Mas não é o maior dos nossos problemas.
No trânsito caótico de ruas e rodovias, quase 100.000 pessoas perdem a vida todos os anos (cadê C.P.I para isto?).
No atendimento caótico à saúde, milhões de pessoas morrem todos os anos por enfermidades facilmente curadas com um serviço eficiente (cadê jornalistas chorando?).
Poderíamos repetir o mesmo argumento para segurança pública, educação, saneamento urbano, etc.
No site “Carta Maior”, o cronista Chico Guil dispara: “Milhares de calhambeques e carroças trafegam em estradas brasileiras que nunca foram asfaltadas e ninguém parece preocupado com isso. Caminhoneiros atravessam o país em viagens que duram dias, tocados à base de café e rebite, morrendo em desastres horríveis, e disso pouco se fala. A TV prefere mostrar aquelas justas manifestações nos aeroportos pedindo providências urgentes. Uma ou duas horas de atraso nos vôos e as senhoras de casaco de pele ficam histéricas” (30/07/2007).
Espero que este importante tema da vida nacional seja tratado com mais seriedade pelos nossos políticos e jornalistas. Que os problemas nacionais sejam discutidos com imparcialidade e responsabilidade. È o minímo que podemos esperar.

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