REVIVENDO UM MOMENTO ESPECIAL !


Estou fazendo a primeira postagem do meu blog. Nesta hora gostaria de recordar um grande momento da minha vida: minha formatura no curso de Direito. Depois de anos de muita luta, consegui este diploma aos 42 anos de idade. Fui escolhido orador ofical da turma de formandos da FADIVALE 2005; Apresento aqui o meu discurso, que resume bem a minha visão:

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DISCURSO FORMATURA DO CURSO DE DIREITO: FADIVALE 2005

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"Aqui estamos nós, concluindo um curso de Direito num país onde a eficácia do Poder Judiciário e o acesso democrático à Justiça ainda são um sonho, o que só faz aumentar a nossa responsabilidade. O caminho se faz ao caminhar, e hoje damos o primeiro passo em direção ao futuro.

Em todos estes anos de convivência, mais do que conhecimento técnico, nós aprendemos a conhecer o ser humano. Homens e mulheres, pessoas das mais diversas idades, credos e convicções políticas, unidas em um só objetivo

Mas no final, as diferenças sociais ficaram menores diante de nossa amizade, predominaram não as relações de segregação, mas de colaboração e participação. Ao invés de ricos e pobres prevaleceram os cidadãos que trabalham juntos na construção de uma história, na qual as diferenças não servem de pretexto para estabelecer privilégios, mas ocasião de enriquecimento coletivo.

Foram mais de três mil horas de dedicação a matérias técnicas e de formação humana. Incontáveis provas, trabalhos e avaliações. Centenas de horas de atividades e estágios que nos aproximaram da sociedade civil e do mundo real. E mesmo assim alguns podem achar que não estamos preparados.

Enfrentaremos certos exames que ainda visam aquele acadêmico decorador de códigos, de velhas fórmulas e de empoeiradas doutrinas que dormem há décadas nas estantes. Aprendemos que é indispensável conhecer a realidade do mundo jurídico, e que a nação precisa de profissionais eficientes e não de meros despachantes forenses. Há mais de duzentos anos, Kant alertava que: “Um decorador de sentenças e códigos não é sábio, mas presa do idiotismo erudito.” Capacidade de memorização não que dizer competência para enfrentar as situações reais do dia-a-dia dos escritórios de advocacia.

Mas por que escolhemos estudar tal ciência?

A noção de Justiça civilizou o mundo, substituindo a selvageria pela civilização. Nas palavras de São Tomas de Aquino: “o homem com virtude é o melhor dos animais, sem lei e sem justiça é o pior de todos eles”.

A realização da Justiça é o fim supremo do Direito. Foi esta missão que nos atraiu para tal curso.
Nos últimos séculos, a Justiça passou a se distanciar do povo e muitos começaram a ver a lei apenas como um instrumento político utilizado pelas classes dominantes visando a perpetuação no poder. O Direito inseriu-se na ordem burguesa, liberal e capitalista. No alvorecer deste novo século a lógica da dogmática positivista não mais tem atendido o objetivo de resolver os conflitos humanos.

Mas, como diz o professor Lyra Fillho: “o Direito se vinga, ele cresce, pressiona, conquista alargamentos notáveis, brilha nos estandartes dos espoliados e oprimidos, ecoa na voz dos advogados progressistas, transborda nas sentenças dos magistrados inquietos, incorpora-se no pensamento dos professores rebeldes, sacode a poeira dos tratados conservadores, rompe bitolas dogmáticas e retempera os ânimos dos que, queiram dar a causa jurídica por perdida”.


Colegas, esta causa não perderemos.
E esse é o Direito do século XXI, livre, alternativo, nascido nas ruas e nas favelas, insurgente e revolucionário.

Muitos se escandalizam quando falamos nestes novos conceitos, mas alertamos os conservadores: escândalo maior é a fome e a exclusão social.

Temos um sonho, temos de ter um sonho. A visão do mundo injusto que nos cerca não nos desanima. Da miséria do mundo nasce o sonho da transformação. Nossa indignação frente a realidade jurídica, o descaso e o desprezo de nossas elites não nos desanima, pois desta indignação nasce a esperança.

Estamos pronto para um direito cada vez mais público, onde os movimentos sociais assumem importante papel nas relações jurídicas. Assim a inércia do poder executivo em promover políticas sociais deságua numa onda de insatisfação, na emergência dos conflitos coletivos, que recorrem ao Poder Judiciário em busca da efetivação dos direitos sociais.

Ao fazermos estas reflexões, acreditamos que esta é a escolha certa, e agradecemos muito.
Agradecemos a Deus, por este momento de vitória, na certeza de que combatemos o bom combate. Queremos transformar este agradecimento em compromisso de colaborar com a obra do Senhor. O reino de Deus tem certamente, sua origem no céu, mas começa agora aqui na terra, sempre que se implantam níveis novos na redução do sofrimento de nossos irmãos excluídos, pois como demonstra a carta de São Tiago, a simples fé sem o compromisso de transformação social é estéril e morta. Durante estes cinco anos de estudo, conhecemos a verdade, e ela nos libertará.
Agradecemos aos nossos pais, pelo sacrifício que fizeram para nos proporcionar este sagrado momento. Juramos que esta luta não será em vão. Não os decepcionaremos nunca.
Num ato, não de tristeza, mas de saudade, também agradecemos aos pais que não estão aqui entre nós, aqueles que hoje estão na presença de Deus, mas que nunca nos abandonaram. Lembramos também de nossos colegas Adilson e Severino, que nos deixaram no decorrer do curso. Temos certeza que hoje também vai ter festa no céu.
Agradecemos aos professores, que mesmo após um dia estressante de trabalho, como advogados militantes, juízes, promotores e delegados, enfrentam uma sala de aula a fim de nos transmitir sabedoria e experiência de vida. Muito mais pelo amor ao Direito do que por compensações financeiras.

E para concluir, nada como recordar uma canção escrita por Renato Russo que diz assim: “até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo, quem roubou nossa coragem? Quando o sol bater na janela de seu quarto, lembra e vê que o caminho é um só”
Aceitamos o desafio, acreditamos nisso e finalizamos deixando o nosso recado às novas gerações: outra justiça é possível, outro Brasil é possível, outro mundo é possível, é só fazer DIREITO.

Muito obrigado."

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